quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O SENHOR CORONEL É QUE SABE

Pelos vistos, o português, de há uns anos a esta parte, passou de conformado e calmo, a impaciente e ansioso.
Vá lá saber-se porquê.
Mesmo que consiga abstraír da crise, sente-se enervado nas longas filas de trânsito.
Nas bichas dos autocarros, quando estes não cumprem os horários.
Nas estações ferroviárias, se o comboio calha a atrazar-se uma horita.
Na sala de espera do dentista, caso a consulta tarde o seu bocado.
De cada vez que o petróleo desce e a gasolina sobe.
Se por ventura se distrai a olhar a vizinha do prédio em frente e assenta o pé em cheio no cocó que o cãozinho da dita lhe deixou no passeio.

As manifestações dessa ansiedade variam, conforme a circunstância e o local.
Podem mesmo revelar-se funestas, quando se trata de ligar o 112 e de lá demoram um bocadito a atender.
Foi pelo menos o que assegurou o Senhor Coronel Abílio Gomes, cardiologista de formação e ilustre presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica.
- "O MOTIVO DE SE VERIFICAR UMA MÉDIA DE 100 CHAMADAS DIÁRIAS NÃO ATENDIDAS PELO INEM, PRENDE-SE COM O FACTO DE OS PORTUGUESES NÃO CONTROLAREM A SUA ANSIEDADE. ISSO LEVA-OS A DESLIGAREM O TELEFONE, ANTES QUE HAJA RESPOSTA DO OUTRO LADO."
Se o Senhor Coronel o diz, longe de nós qualquer dúvida.

Por mim, do que os portugueses precisam é de emborcar mais umas quantas embalagens de PROZAC, ou do correspondente genérico que sempre sai mais barato.
Talvez assim consigam esperar meia hora, uma hora, o que for, de telefone pregado ao ouvido, até que uma alma bondosa atenda de lá.
Pode o doente ou sinistrado gemer à vontade ou esticar mesmo o pernil, que quem fez a chamada ficará ali impávido, como o Senhor Coronel gosta.
E sereninho, sereninho.
Como mandam as regras.

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17 comentários:

Maria disse...

Pois a mim parece-me que estamos a ser "invadidos" por uma variada colecção de anedotas, e para todos os gostos: mais picantes, menos picantes, mais idiotas ou menos idiotas, mais estúpidas ou menos estúpidas.
Dantes a silly season era o verão. Será que agora se passou, também esta, para o inverno?

Haja paciência...

Beijinho, Ana

A. João Soares disse...

Parvoíces podem aparecer de todo o lado, até de cardiologistas. A irresponsabilidade existe por todo o lado numa sociedade sem valores éticos. As pessoas não aceitam as suas responsabilidades, não admitem que erram, que os seus serviços têm falhas. A culpa é sempre dos outros.
Ninguém os fuzila por tais erros, porque a perfeição absoluta não existe, mas exige que procurem soluções.
O senhor doutor, como mereceu a amizade dos políticos, julga-se, como eles, um deus intocável, acima das críticas, sem precisar de admitir as suas deficiências.
Isto mostra-nos mais uma vez a miséria moral em que o País navega.
Beijos
João

Ana disse...

Maria:
Já tinha chegado à conclusão de que, agora, a Silly Season se tinha estendido ao ano inteiro.
Anda tudo silly:
Políticos, bastonários, jornalistas, gente ligada ao desporto, eu própria me sinto silly a maior parte do tempo...

:))))

Beijinho

Ana disse...

João:
Sabe que eu chego a ter a impressão de que, enquanto debitam meia-dúzia de disparates (meia-dúzia é favor) eles sentem que estão certíssimos e o comum cidadão é que é o imbecil?
Não têm a mais leve parcela de humildade, nunca entendem que o seu trabalho não é perfeito.
Normalmente vão subindo o tom das justificações até chegarem a um nível de arrogância insuportável.

O exemplo mais flagrante é a nossa ministra da Educação.
Começou bem e veja-se ao que chegou.
O país, infelizmente, encontra-se à deriva.

Abraço

Anónimo disse...

Cá para mim o sr. coronel droga-se e não é com prosac, é com naftalina.

Não haverá ninguém que lhe faça o favor de o meter no roupeiro?

Cristina Caetano disse...

E eu ainda não entendi, porque esses fulanos teimam em abrir a boca pra dizer.... pois é,... besteira.
O utente, antes de virar moribumbo é considerado uma anta... só pode!

Beijinhos

Ana disse...

Salvoconduto:
Mmmmm, o senhor coronel, com aquela boca tão estreitinha, conseguirá engolir as bolas?
Claro que há sempre a hipótese de as reduzir a pó...fazer a carreirinha...

Bom, tudo isto são meras especulações.
A considerar, em todo o caso.

Abraço

Ana disse...

Cris:
Tadinha da Anta!
Só muito recentemente me deu para ir ao Google Image ver a imagem dum bicharoco desses.
Até tem um ar simpático.
O nosso burro, também.
Então porque carga de água se fazem comparações tão negativas com ambos, hein?

Após estas considerações de ordem filosófica, passo à resposta:
O utente, pobre dele, a maior parte das vezes, NEM SEQUER É CONSIDERADO!

Beijinho

Luis Eme disse...

eles adoram brincar com a nossa inteligência e com a nossa vida...

abraço Ana

Ana disse...

Ai, Luís, o mal que o poleiro faz a tanta gente...

Abraço

Ana disse...

Ai, Luís, o mal que o poleiro faz a tanta gente...

Abraço

Anónimo disse...

Tem a Ana razão, a silly é sempre, é geral, é omnipresente. Até nos gelados a encontramos.
Há dias, alguém pedia um cone com sabor a café e chocolate, tendo logo acrescentado que queria um silly cone.
Foi feita assim, à pressão, podia ter saído melhor,paciência.

poetaeusou . . . disse...

*
o homem é coronel, pá . . .
e divertido, se . . .
não fosse um caso sério,
,
esquerdo direito, um, dois,
,
olha
uma camada de nevoeiro
lhes desse a eles todos,
é praga,
mas não é perigosa,
um perigo é estarmos ´
á mercê, dessa gentinha . . .
,
conchinhas,
,
*

Ana disse...

Ai, Poeta, és bem modesto na praga.

Já que esta gente gosta mais de falar do que de agir, eu ia mais por uma camada de sarna, a ver se eles eram obrigados a fazer qualquer coisa.
Coçar-se, pelo menos.

Abraço

Duarte disse...

Caótico. Um estado critico que induz a que passemos todos olimpicamente ou que nos entre a desesperação. Até quando? Se as coisas seguem assim demorará muito tempo.

Boa reflexão a tua.

Um grande abraço

Ana disse...

Duarte:
O mais triste é quando se vive longe das urgências dos hospitais e nem recursos existem para se recorrer a um meio de transporte alternativo.

E vem um coronel dizer baboseiras...

Abraço

Bottled (em português, Botelho) disse...

Cara vizinha Ana,

Porventura V. Exa. conhecerá português menos ansioso que um português já defunto?
Perguntei só por perguntar, é claro...
À Nossa!
Hic Hic Hurra