sexta-feira, 18 de junho de 2010

*****************************************************

Pondo de lado a enorme admiração pela sua obra literária, a figura humana de José Saramago nunca me foi simpática.
Daqui mesmo saíram várias farpas dirigidas a algumas das suas polémicas declarações.
E, surpreendentemente, dou por mim experimentando uma inesperada e sincera tristeza que não se me explica.

Como se o escritor me tivesse sorrido pela primeira vez, depois de já não o poder fazer...

***************************************

14 comentários:

Maria disse...

Malhas que a morte tece...
Eu estou triste, sim. Para além do escritor, do homem, perdi um Camarada...

Beijinho, Ana.

Cristina Caetano disse...

Sinto o mesmo, Ana. Implicava com ele nesses últimos anos.
É que sabemos que não volta, não escreverá mais, não poderemos mais ir contra algumas de suas certezas. Muito "não" deixa qualquer coisa de vazio.

Beijinhos

Luis Eme disse...

sempre separei o homem da obra.

o homem sempre me pareceu demasiado vaidoso e arrogante.

o escritor foi grande, conseguiu ser o nosso primeiro Prémio Nobel.

li três obras dele, o "Memorial do Convento", o "Evangelo Segundo Jesus Cristo" e as "Pequenas Memórias". embora tenha hábitos de leitura, tive dificuldade em ler o "Memorial", só com grande força de vontade cheguei ao fim... tirando as partes da Bliminda e do Gusmão, inventor da passarola, achei tudo aquilo demasiado chato.

dos dois últimos gostei de ler e tenho na estante "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (há mais de dez anos, penso eu...), à espera de coragem, porque não gosto de ler romances com mais de trezentas páginas...

beijinho Ana Maria

Ana disse...

Maria
Malhas complicadas...

Beijinho

Ana disse...

Cris
Pode ser.
Também houve, na sua doença e debilidade física, muito a lembrar-me o que se passou cá em casa, uns meses atrás.
Acho que foi um pouco de tudo...

Beijinho

Ana disse...

Luis
Podes chamar-me como quiseres...
Até é assim que a família me chama :)))

Por acabar tenho "A Viagem do Elefante" que permanece na mesinha de cabeceira à espera dum estado de espírito para aí virado.
Mas faltam-me ler ainda uns tantos.
O "Memorial" foi o meu primeiro, que achei admirável. No final, chorei como choro em certos filmes...

Beijinho, Luis.

poetaeusou . . . disse...

*
que Viva o Escritor !
,
Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.
,
In-José Saramago,
,
porque de homem pouco teve,
um ódio ancestral a quem
não pensasse como ele,
dormiu sempre com a Bíblia
nos seus fantasma, do Diário de
Noticias, talvez, onde saneou
amigos meus que eram
mais de esquerda do que ele !
A Bíblia foi o seu Demo, omitiu
a Tora, era Judeu ? ignorou o
Al Corão, tinha medo do Bin ?
Ou ele lucrou com o Cristo-Homem
Servindo-se dele, como fazem,
quem ele acusou ???
em 87 anos pesou devidamente
os pratos da sua Balança ?
podemos ser Espanhóis quando
em Portugal o Governo é centrista,
e Patriotas quando é de esquerda ?
e pasmado fiquei, com o nosso
Prémio Nobel, sim, porque também
é meu com muito orgulho, disse
na ultima entrevista conhecida,
que tudo (nele) acabaria, mas
>que estaria "lá" num outro lugar !<
e eu reagi, a modos como o Futre
quando perguntou, quem é esse gajo ?
e exclamei, este Gajo enganou-me !
ele também acredita no ALÉM .
,
Saramago
Não esqueço o Grande Escritor,
Li os teus livros todos, TODOS !
Peço-te que impeças de te fazerem
o Deus, que, julgo, pensavas ser,
fostes como eu, como aquele e o outro é,
com os podres de humanos sermos !
(como vês tambem sou frontal)
,
Amiga desculpa,
Se te incomoda o rascunhado,
Se, se, se,
Olha . . . desarriscóóó !
,
que vivam todos os escritores,
sem raças, sem credos, sem politicas !
,
um mar de letras de todas as cores,
deixo,
*

Bandido disse...

Olá ana
Não gosto dele como escritor, como pessoa não conheço, como figura pública metia-me nojo por vários aspectos:
- dizia-se português mas vivia em Espanha e davas mais mostras públicas de ódio que de amor à pátria;
- defendia uma união ibérica (espanhola) contrariando os mais de 800 anos da nossa história;
- dizia-se comunista, mas as atitudes dele eram mais de capitalista do que de comunista;
- ....

A morte dele para mim foi com a mesma indiferença que com que receberia a notícia de um Zé Ninguém que não me dissesse absolutamente nada

Ana disse...

Poeta
bela observação da raça humana "de morder os mais fracos, se mandamos e de lamber as mãos, se dependentes"...
Nem todos, claro. Mas hoje em dia,
decididamente,
uma larga maioria...

E a quem servir, que enfie a carapuça.

Desapareceu o homem, não desaparecerá a polémica. Nem os jornalistas deixavam...

Beijinho

Ana disse...

Red Eagle
Como alguém dizia, nestes últimos dias, raros eram os que lhe ficavam indiferentes.
E a balança oscilava entre a admiração e o ódio...

Beijinho

Duarte disse...

Armazeno algumas frases suas, mas especialmente a que me disse quando nos cruzamos na Universidade Politécnica de Valência, onde foi investido Doctor Honoris Causa... no momento em que me ouviu falar português, -que faz você por aquí? Nem nos deixaram falar... a multidão era considerável e a segurança esmerada.
Inolvidável!!!
Notarei a usa ausência. Moveu-se muito por aqui, ouve reciprocidade.
O poema "Circo" cantado por Fernando Tordo é impressionante!

Um grande abraço para ti

Ana disse...

Duarte
Devo dizer que não conheço essa interpretação do Fernando Tordo.
O mais aproximado é a "Tourada" mas essa é do Ary.
Vou procurar quando o tempo me deixar...

Beijinho

João disse...

Uma pessoa assim, capaz de fazer transparecer para o exterior uma imagem de duro, fomentando guerras e polémicas, quando no recanto do lar era capaz das maiores ternuras e afectos para a grande Pilar da sua vida, escrevendo de uma forma que à partida não se mostra cativante, mas encerra grande sabedoria e arte, terá necessariamente de originar as sensações que a Ana descreveu: ou se gosta ou se detesta.

Qualquer que fosse o caminho sentimental escolhido, o que é certo é que o ser humano já não está entre nós. Resta a obra que, goste-se ou não, permanecerá para além dele, intemporal, escudada num Nobel que lhe confere universalidade. Reconheça-se-lhe, pelo menos, esse mérito.

Até sempre, José, que, deixando-nos um legado de escrita com pausas em lugar de pontos finais e vírgulas, Será Mago?

Beijinhos.

Ana disse...

Ai, João, que belo trocadilho este!
O homem devia ter alguma coisa de mago para poder ter escrito o Memorial, pelo menos.

A morte tem destas coisas. Amacia a imagem de quem levou...
Tenho andado a ler entrevistas e crónicas dele que não conhecia e outras que me mandam por e-mail, bem interessantes.

O mau feitio, já se sabe, ninguém lho conseguiu tirar, nem a sua amada Pilar que deve ter aturado das boas...

Agora já ele descobriu se o Deus, que lhe despertava tanta revolta, existe ou não...

Por mim, prefiro esperar mais um pouco até tirar essa dúvida...

Beijinho