CRÓNICA BREVE DUMAS BODAS DE PRATA

Se hoje em dia conseguir fazer 25 anos de casados é meter uma lança em África, casais há que lá chegam mesmo mantendo um casamento de pura fachada.
Tudo indica ser esse o caso de Zizi Europe e de Chico E. Portugal (E de Esperto, por parte de mãe, Portugal por parte de pai).
Ela, culta, aristocrática, rica, apreciadora de música clássica, habituada a pôr e dispôr lá em casa.
Ele, teso, simpático, malandro incorrigível, amigo de saias, farras, bebidas, futebol e cantigas do Quim Barreiros.
Entre zangas e reconciliações lá chegaram à meta dos 25 por incrível que possa parecer.
Se a vontade de festejar era pouca, pesou a insistência do padrinho Marocas que não se conformava sem uma festa de arromba.
Ele próprio se encarregou de marcar uma missa cantada nem mais nem menos do que no Mosteiro dos Gerónimos.

Chegado o dia, Zizi demorou-se um pouco mais no cabeleireiro e tratou de avisar o Chico para que não esperasse por ela e fosse andando.

12h e 30, Mosteiro apinhado de convidados, pergunta um enfadado Marocas:
-"Ouça cá, Zizi, que se passa com o seu marido que já cá devia estar há mais de meia hora?"
Vexada e com um mau pressentimento, ela afastou-se na direcção da porta, abriu a mala e tirou o telemóvel.

Por essa altura o nosso Chico, ainda de pijama, acabara justamente de tirar uma cerveja bem gelada do frigorífico e preparava-se para se estiraçar no sofá, dedo no comando, em frente do seu amado LCD já sintonizado na estação que transmitia o jogo Coreia do Sul - Grécia.
Sobressaltado com o toque estridente, olhou o visor, leu o nome da mulher e, instintivamente, desligou o Iphone.

O jogo tinha começado.
Sorveu uma longa golada, soltou um arroto dos antigos e entrou no paraíso.

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